EU ESTAVA LÁ – 2º – DEBORA
Suely Galli[1]
LEPED/2017
Na ocasião eu dava aulas para 1ª serie do Ciclo Básico. Alfabetizando. Débora uma menina exageradamente míope, cabelos ralos, curtos, louros e com vários nozinhos, cheirava a xixi, nariz escorrido e seco de dias. Uma figura descuidada e maltratada. Adorava vir a mesa contar-me sobre as batidas policiais e apreensão de objetos furtados nos fins de semana na comunidade. Eu observava que Débora realizava as atividades em classe, com desempenho aceitável, mas, as lições de casa eram desastrosas: caderno sujo de terra, folhas amassadas e respingada de líquidos, letras tortas, sofrível. Chamei por várias vezes sua atenção que ouvia calada, cabeça baixa, deixando-me com sensação de vilã. Um dia, ela trouxe a lição para eu ver antes mesmo, de iniciarmos as correções. Estava ansiosa e sorridente. Tudo no maior capricho. Então eu falei: quando você quer você faz, não é? Ela então fulminou-me com sua resposta: não! Professora, é que agora lá em casa nóis tem mesa!
Esse episódio serviu-me de subsídios para análise do contexto político-social do sujeito histórico, junto as futuras pedagogas em seus estágios e na prática de ensino.
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